"Meu filho quer ser
bandido e matar policial", diz mulher que pediu para interná-lo na
Fundação Casa
O
medo de ver a casa se tornar um ponto de venda de entorpecentes fez uma
enfermeira de 34 anos, que vive no Parque Vitória Régia, zona norte de
Sorocaba, acionar a Guarda Civil Municipal e entregar o filho, 16, na manhã
desta quinta-feira (13).
Ao
BOM DIA, ela disse que luta há dois anos para livrar o menino do mundo do
crime. “Ele me disse que quer ser bandido, se envolver com o crime organizado e
matar policiais”, desabafa.
Os
dois vivem sozinhos, com uma renda superior a R$ 4 mil. “Posso dar tudo a ele,
mas meu filho se recusa a aceitar. Disse que vai traficar e comprar suas
coisas”, lamenta.
Influências/ De acordo com a enfermeira, tudo começou quando o menino conheceu, na
escola, jovens envolvidos com o crime. “Meu filho era um menino amoroso, companheiro
e que adorava animais.” Mas com o envolvimento no mundo do crime, ele começou a
utilizar entorpecentes e a traficar. “Cheirava a boca dele todos os dias, mas
aquilo que eu mais temia aconteceu e agora luto todos os dias para tirá-lo
disso.”
Junto
com a criminalidade, veio a desobediência. Nos primeiros meses, o jovem agredia
fisicamente e verbalmente a mãe, mas, segundo ela, o adolescente foi
aconselhado por outros criminosos a respeitar a mãe e as agressões pararam.
Sem limites/ O menino passou a frequentar festas com música funk e não ter hora para
dormir ou acordar. A enfermeira diz que a convivência com o filho é pacífica,
mas ele se recusa a aceitar qualquer tipo de regra.
Todas
as vezes que encontrou drogas em casa, a mulher entregou tudo à polícia. “Eu
não apoio a criminalidade e acho que nenhuma mãe deve apoiar isso”,
ressalta.
Ponto final/ Na manhã desta quinta-feira (13), a enfermeira chegou em casa após um
plantão de 24 horas. Como sempre, revirou a residência. “Já tinha percebido que
meu filho estava mexendo muito embaixo do tanquinho. Então encontrei ali drogas
e dinheiro.”
A
enfermeira foi dormir, mas antes escondeu os entorpecentes. Quando o
adolescente acordou e deu por falta das drogas, ficou enfurecido. “Ele acordou
para continuar traficando e achou que eu tinha jogado tudo fora.” Entre os
gritos, o menor deu um murro na parede e saiu. Foi neste momento que a GCM foi
acionada.“A enfermeira ligou na base comunitária do bairro solicitando a nossa
presença”, conta o GCM André, que atendeu o caso ao lado do GCM Pichini.
Ao
chegarem na casa, a mulher os recebeu contando o que houve. Imediatamente foram
apreendidos 16 flaconetes de cocaína, sete pedras de crack, cinco porções de
maconha e R$ 117.
Com
o apoio da Romu (Ronda Ostensiva Municipal), o jovem foi localizado no próprio
bairro. Além do filho, a enfermeira entregou vários objetos de origem
desconhecida, como bicicletas, celulares e roupas à GCM.
Pedido/ Ao chegar no Plantão Policial Norte, a mulher pediu para que o filho
fosse apreendido e levado à Fundação Casa. “Ele não tem medo de nada, precisa
de uma lição. Sei que é um tiro no escuro, mas tenho de tentar tudo para
ajudá-lo.”
Segundo
o delegado de plantão, Thales Fleury de Camargo Madeira Filho, esta foi a
terceira vez que o garoto foi apreendido pelo mesmo crime. “Pela continuidade,
iremos interná-lo.”
O
apelo de mãe foi atendido, mas a enfermeira confessou ser difícil tomar aquela
decisão. “Não tenho vergonha da minha atitude, pois se apoiarmos o crime, isso
nunca vai acabar.”
Mais próximos do crime
Estatística
mantida pela Polícia Civil mostra aumento de atos infracionais.
Em
Sorocaba, os atos infracionais de tráfico de entorpecentes, que envolvem
adolescentes, registrados pela Polícia Civil, aumentaram em 33,9% nos sete
primeiros meses do ano, em comparação ao mesmo período de 2011. Só em setembro
deste ano, os registros cresceram em quase 90%.
Na fundação/ Uma pesquisa realizada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) mostra que 86% dos adolescentes internados na Fundação Casa por todo
o país são usuários de drogas; 96% são do sexo masculino e 81% vivia com a
família até a internação.
Exemplos/ Ilustrando este problema, vários casos inusitados de atos infracionais
que envolvem drogas foram registrados pela Guarda Civil Municipal, que atendeu
a enfermeira. Confira abaixo três dos vários casos deste último semestre.
Salgadinho do ‘demônio’
Acusado
de traficar drogas e aliciar menores, um jovem de 25 anos foi detido pela GCM
em 10 de outubro, nas proximidades de uma escola estadual no Parque das
Laranjeiras, zona norte. Com ele foi apreendido um pacote de salgadinho
contendo mais de cem flaconetes de cocaína, além de crack e maconha.
‘Plantação’ de crack
Durante
a Operação Comunidade Segura II, GCMs apreenderam centenas de porções de crack
e tijolos da mesma droga em um pasto da Vila Sabiá, zona leste, em 28 de
novembro. Minutos depois, o responsável pela droga, de 15 anos, foi apreendido.
O local fica nos fundos da sua casa.
Droga nas partes íntimas
Em
14 de novembro, o ponto de venda de entorpecentes gerenciado por uma mulher de
21 anos, foi fechado. Ela vendia drogas junto com duas adolescentes, de 14 e 16
anos. O trio guardava os entorpecentes dentro dos órgãos genitais. Foram
apreendidas porções de crack e de cocaína.
Por: ADRIANE
SOUZA
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